segunda-feira, 26 de setembro de 2011

"Que loucura!"

“O coração tem razões que a própria razão desconhece”


Blaise Pascal, filósofo, matemático e teólogo francês, em pleno auge da razão, fez uma declaração que tempos depois tornou-se uma das suas mais conhecidas. Desbancando o que se dizia ser a fonte de todo conhecimento (a razão humana), Pascal escancara a fragilidade do racionalismo apontando para as atitudes que o próprio coração nos leva a tomar diante das circunstâncias da vida, dizendo-nos que diante do conhecimento humano algumas escolhas se tornam irracionais, e que o coração (lugar onde as escolhas mais difíceis são tomadas) é mistério.

Um sábio, antes mesmo de Pascal (bem antes), já havia dito que “entre tudo o que se deve guardar, você deve guardar o seu coração, porque dele é que procedem as saídas da vida”. E outro a pouco mais de dois mil anos, reafirmando as palavras do sábio, disse que “onde estiver o seu coração ali também estará o seu tesouro”.

Hoje, em fase de mudanças radicais, tento descobrir se de fato a vida muda da noite para o dia. Como é possível acordar e se ver indiferente a algumas coisas que ainda ontem se vivia por elas? Confronto-me na frente do espelho com uma dúvida (que vem acompanhada de várias questões): esse grito esteve sempre lá? Foi o silêncio que esvaziou o seu sentido? Será que em algum momento eu o deixei de ver? Ou não escutei o furor do que era dito nesse silêncio? Não sei se coloquei o que é de hoje no amanhã (procrastinei), e também não sei se meus pensamentos já estão em outro lugar estando hoje onde não mais deveria... O fato é que estou jogando muitas coisas fora enquanto minha memória passa diante dos meus olhos.

Seja pelas razões que transcendem a própria razão, ou pelas saídas que “ele” descobriu pela falta da guarda devida, ou até mesmo pela direção em que eu o direcionei, temos um culpado: o coração... grande vilão que carrega as razões desconhecidas!

A sabedoria do pequeno menino cativado pela raposa diria que por ir e vir, todo o dia, percebe-se o essencial daquele que se vê e que esse se torna o reflexo daquilo que se precisa. Mas essas coisas são invisíveis para os olhos... e, aqui também (acredito eu), estamos falando do coração.


Então, se você seguir o coração, você pode ser chamado a qualquer (ou a todo) instante de “maluco” ou descompensado - talvez isso que signifique irracional. Porém, encontramos um dilema aqui: se o coração por vezes é irracional, talvez a razão não enxergue o essencial.

Seria bem mais fácil colocar a culpa na maldita deusa morta, e acusá-la de me castigar por não servi-la com o rigor exigido! Mas sei que não consigo acreditar nisso, inclusive em deuses mortos...

Não estou resolvido!

Primeiro porque acredito na integralidade do ser humano como ser indissociável. Para mim não se separa espírito de corpo (a não ser na morte) como também não se separa razão de emoção (o que dizemos acontecer no coração). A neurociência está do meu lado nesse sentido (por incrível que pareça, aqui estou apelando para a modernidade), comprovando que não existe razão que não seja comprometida afetivamente e nem emoção que não seja inteligente. Isso torna toda emoção inteligente e toda razão emotiva. O que faz da “maluquice” compreensível ao mesmo tempo que compromete a razão.

Segundo porque posso conviver com o que não se explica, mas não com a covardia (embora enxergue alguns traços dela em meu passado). Por mais que ultrapasse os limites da razão, prefiro optar pela coragem das palavras do poeta que decide da luta não se retirar e se atirar do alto em quem atira em seu peito, mas da luta não se retirar...

Enquanto o medo traz a probabilidade de se tornar covarde diante do silêncio que se instaura na racionalidade da auto-preservação, a coragem torna totalmente inseguro o amanhã diante das possibilidades de mudanças.

E é exatamente aqui que se faz necessária a escolha.

É um pouco de vertigem que se sente quando se quer mudar, e embora ainda não exista chão, gostaria de adiantar a resposta (que sei que não virá) da pergunta que não paro de lançar, porque eu volto... E se eu voltar?

terça-feira, 20 de setembro de 2011

"Lembre-se do seu Criador..." (Eclesiastes 12.1)

É um equívoco pensar no texto de Eclesiastes 12 como um pedido ou como uma precaução do pecado diante das oportunidades que saltam à cara de um jovem. O que o sábio, na verdade, oferece nesse texto é uma resposta ao sentido da vida. Sentido em relação à orientação/direção e sentido buscando um significado.

O livro de Eclesiastes narra a consciência de um vazio. Não de um vazio qualquer, mas estabelece um diálogo silencioso entre o Homem (humanidade) e o vazio do nada sob os olhos d’Aquele que é tudo, Deus. Ele narra o drama de alguém que, acreditando que a sua “sabedoria” tem algum valor, descobre que ela sempre lhe passará uma rasteira, pois é incapaz de mudar o seu destino final (2.15-16).

Existe uma frustração de quem se apoiou em sua própria sabedoria para experimentar e produzir sentido através das experiências vivenciadas que não trouxeram as respostas às perguntas levantadas. Não precisamos ir longe para nos compararmos ao sábio. Quantos de nós acreditamos e apoiamos a nossa vida num plano de carreira, num relacionamento, nos prazeres que algum tipo de sucesso pode oferecer, e nos decepcionamos quando o objetivo não é alcançado, ou quando a coisa não sai da maneira que planejamos. E não só isso, e quando o conflito é bem mais parecido com o do próprio Eclesiastes, quando tudo dá certo, mas ainda não faz o menor sentido. Tudo é vão, como diz ele, uma nuvem que passa, um vento vazio...

“Todo conhecimento verdadeiro sobre si mesmo começa com um profundo entristecimento”, afirma Kiekegaard, filósofo cristão existencialista. É quando tomamos a consciência de quem nós somos (um punhado de pó) e quando percebemos o vazio que carregamos em nós mesmos, que descobrimos que só podemos ser alguma coisa em Deus, pela sua graça, e que respiramos com sopro de vida que não podemos sustentar.

O que o sábio oferece no capítulo 12 é a coragem de se viver a vida, desfrutando do melhor que ela tem, sem se esquecer de que nada do que você viver ou experimentar pode sustentar a sua existência, nem trazer sentido para sua vida. Por isso, diz ele, viva, viva intensamente, mas não se esqueça que você é pó, e a sua existência depende de uma graça, e que o sentido da sua vida está com o seu Criador. Não se esqueça dele jovem, lembre-se, "lembre-se do seu criador...”

E o sábio continua: "antes que seja tarde..."

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O desejo de consumo

“O desejo de consumo, esse sim é o grande fundamentalismo.” Milton Santos


Percebo que hoje não existe mais receio em tomar decisões. Todo mundo parece ter aprendido de que a escolha de não decidir também traz conseqüências sobre o que não foi decidido. E, é muito mais interessante e empolgante uma vida de múltiplas escolhas, pois embora elas sempre tenham um risco, viver sem o êxtase da escolha parece insuportável para quase todos.


A escolha nos causa uma sensação de autonomia individual de liberdade, garantindo-nos uma nova felicidade a cada decisão tomada ou retomada.


A escolha em si, não é um problema (porém, também não garante à solução). O problema é que num mundo viciado em uma ideologia caracterizada pelo o que se deseja, seguindo uma perspectiva de produto/consumo/satisfação, reflexo da presente sociedade de consumo, onde o que é novo hoje não serve mais amanhã (que falem mais alto os iPhones), as escolhas correm o risco de se tornarem motivos de busca por satisfação de prazeres atreladas ao tal desejo de consumo.


E daí? Você pode estar pensando. Algum problema? Nenhum, desde que você consiga não levar isso para os seus relacionamentos. Desde que a pessoa do seu lado não seja tratada como fruto do seu próprio prazer, ou somente como troca de prazer. Aliás, são de prazeres que se faz a vida? Ou quando eles aparecem são em poucos momentos ao longo do dia (essa confusão deve ter originado a tal busca da felicidade, enfim...).


Existe uma mercantilização dos relacionamentos humanos, onde os consumidores com recursos correm atrás do potencial gerador de prazeres, e o maior problema não é exatamente aqui, e sim onde tudo muda o tempo toda e cada vez numa velocidade mais rápida. Você já sabe (ou pelo menos deveria) que dada à profusão de ofertas tentadoras, qualquer tipo de mercadoria prazerosa tende a se exaurir rapidamente.


Poderia citar inúmeros exemplos de troca nos relacionamentos por prazer, mas não gostaria de atentar a isso e sim a outra coisa. Na ignorância de pensar que, concordando ou discordando, essa liberdade de escolha está ao alcance de todos quando não está. Por exemplo, na relação entre casais, onde um divórcio pode ser a escolha de um membro mais forte da relação que inclui, necessariamente, o mais fraco, mas que, não é tão bem dotado dos recursos necessários para seguir livremente seu desejo de se manter casado (isso sem falar quando existe um filho, uma criança, essas involuntárias mas duráveis conseqüências das parcerias que raramente vêem o rompimento de um casamento como manifestação de sua própria liberdade).


Mudar para seu próprio prazer pode até ser uma questão privada, mas sempre inclui a ruptura de certos vínculos e o cancelamento de certas obrigações e, os que estão do lado que sofre quase nunca são consultados, e menos ainda têm chance de exercitar a sua liberdade de escolha.


Nesse caso a liberdade é ilusão, o que manda são as escolhas, portanto, cuidado com as escolhas, pois elas são tanto tentadoras e desejadas quanto repulsivas e temidas. Como diz o filósofo Michaud, “com o excesso de oportunidades, crescem as ameaças de desestruturação, fragmentação e desarticulação”.


E, falando em relacionamento, apelo para Charles Chaplin que disse: “Não sois máquinas! Homens é que sois”. Não consuma ninguém somente pelo seu desejo.


Me lembrei dos meus votos (porque também estou com “sintomas de saudades”), mas prometi muitas coisas que ainda não consegui cumprir, só porque algumas ameaçam o meu prazer... Logo, como tenho dito, é melhor me lembrar:


Fê, hoje nesse momento tão esperado por nós, diante de testemunhas inúmeras, de muitas tribos, estamos representando o amor. Amor que nos trouxe até aqui, e que nos levará a uma nova maneira de viver a partir de hoje. Amor que nos ensinou que ele não tem nada a ver com escravidão e sim com liberdade. Amor que não nos faz mais correr atrás de nossos objetos de desejo procurando a plena satisfação. Amor que não é cego, pois cega é a paixão. O amor vê além e não oferece garantias, pois ele não é um sentimento e sim uma decisão de auto-doação, sendo assim, deixa de ser “por causa de” para se tornar “apesar de”. Logo, na há como amar sem correr riscos, sem perder, sem fazer morrer o ego. Por muitas vezes choverá no dia da festa. Mas o mesmo amor nos ensinará a andar juntos debaixo dessa chuva. Parafraseando a música: “chorando ou sorrindo, mas emoções juntos vivendo”.


Incondicional, livre e eterno. Acredito que essas são as primícias do amor. Também do nosso amor. E diante de Deus e desse amor por ele criado é que revelo e expresso meus votos a você hoje:


Eu te prometo amizade, parceria e companheirismo. Serei um lugar pra você voltar no final do dia, uma mesa pra compartilhar o pão de cada dia, uma força no dia da adversidade, um alguém com quem você possa celebrar a vida, as alegrias e tristezas das vitórias e derrotas do dia-a-dia. Tentarei ser a certeza da presença no dia do fracasso e a mão estendida na noite de fraqueza e necessidade. Prometo trazer-lhe ânimo, esperança, estímulo e valorização. E sempre, na pior das hipóteses, a certeza de ter alguém ao lado, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza, aprendendo um com o outro, até que a morte assim nos separe, ou nos una ainda mais. Prometo assim porque não conheço outra maneira, prometo assim pra você, não porque você é a mulher ideal com quem sonhei, mas porque você é tudo que eu não tive a capacidade de sonhar nem de pedir a Deus. Te amo!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

“Ic kann nicht anders"

Eu sempre quis ser o tipo de pessoa que faz a coisa certa. Não só nas grandes coisas onde parece óbvio o que é certo e errado, mas também nas pequenas coisas, nas sutis, que passam despercebidas. Mais ou menos aquilo que eu faço quando ninguém está olhando. E, é fácil deixar essas pequenas coisas de lado, pois são escolhas intermináveis que fazemos todos os dias e nos moldam no tipo de pessoas que somos.

Porém, não poucas vezes, sou invadido por um turbilhão de sentimentos e desejos, ressentimentos e caprichos, que me cegam tanto para as pequenas quanto para as grandes coisas que me proponho a fazer. Saio da rota, saio de órbita, e me vejo preso com correntes que eu mesmo já arrebentei. E não vou dizer que alguns motivos não sejam justos, mas, com certeza não são suficientes, e por isso, não são sustentáveis.


Esse tipo de escolha, que você e eu fazemos, diz muito sobre o tipo de pessoas que somos e o tipo de pessoas que seremos. Temos a escolha de nos tornarmos amargos ou não, escolha de nos tornarmos canalhas ou não, escolha de nos tornarmos caprichosos ou não, escolha de nos tornarmos egoístas ou não.


Quando paro pra pensar não sei ao certo porque tomei algumas decisões e escolhi agir de determinado jeito em relação a alguma coisa. E, também acho válido por vezes não saber explicá-las e não ter respostas a elas. Mas, isso geralmente acontece quando se deixa atingir por uma força de momento que se conecta com sombras de desejos que acabam resultando em um furacão de confusão.


Tem outra também, quando pensamos muito no que não temos, acabamos esquecendo o que temos. E, na verdade, creio que esse seja o maior de todos os problemas, nós nos esquecemos. Vivemos com resquícios de amnésia diante da aceitação resignada das circunstâncias que saltam à nossa cara em tensão com a decisão arrojada de enfrentar essa força das circunstâncias. Acho que é aí que se escancara o caráter. Entre a aceitação resignada e a decisão arrojada de enfrentamento.


É o caráter muito mais exigente e menos apto a transigir, ou até menos paciente com as escusas no teste de ‘aceitabilidade’ moral. Vou tentar explicar, é como se fosse bom, sutilmente aceitável e possível, mas ele diz: - eu não posso. Eu não posso negociar, eu não posso fazer diferente.


“Ic kann nicht anders”. Foram essas as palavras de Martinho Lutero, impelido pelo seu caráter, que o fez declarar em 31 de outubro de 1517, na véspera do Dia de Todos os Santos: Ic kann nicht Anders, “eu não posso fazer de outra maneira", quando ousou afixar as suas 95 teses heréticas na porta da igreja do castelo de Wittenberg.


Isso me faz pensar onde foi que eu perdi o meu caráter, e também de que preciso me confessar...

terça-feira, 26 de julho de 2011

Desejo




Nós somos devorados continuamente pelo desejo.



Naturalmente é necessário refletir um pouco para se dar conta, e isso não se aprende rapidamente.



É uma espécie de areia de praia.



Você caminha sobre ela, vai e volta sem a perceber. Você a respira, a come, a bebe, e ela é tão fina, tão tênue, que na boca nem chega a rachar sob os dentes.



Mas se você para um segundo, eis que ela cobre seus pés, suas mãos, seu rosto...



Você deve se agitar sem parar, para limpar essa chuva de areia.



quarta-feira, 22 de junho de 2011

Lembrança...

Ainda me lembro do dia em que o vi sentado com um boné na cabeça baixa que repousava sobre a mesa, em posição de contrição, enquanto eu caminhava rumo à secretaria para efetuar a matrícula. Era o começo do curso e, na verdade, nem fui tão seu amigo assim, mas ele tinha uma ousadia que irradiava e convicção de fazer inveja. Não poucas vezes nos divertíamos com conversas inusitadas que fantasiavam um pouco da liberdade que não existe na vida privada. Mas, não foi à toa que me lembrei dele. Um amigo em comum me trouxe a notícia de mais uma “baixa”. Não da pessoa em si, mas de uma relação que parecia inabalável. Pai de dois filhos, os quais ainda não tive a felicidade de conhecer, hoje se enxerga em uma relação insustentável não rompida somente pelos laços que não os unem mais, os filhos. E, confesso que me assustei. Não por ser tão nobre, mas por puro egoísmo mesmo. Porque, enquanto para ele sobrava um sentimento de tristeza, o susto me via no espelho. É para dentro de mim que olhava, e para a minha relação que a consciência apontava. Cercado pela fragilidade de relacionamentos, onde para um amigo, a separação de 20 anos de relação, ditos atribulados, o faz bem (e isso me assusta), e para outro que se diz não preparado para viver uma vida em que é preciso dividir mais um pouco (porém isso parece soar mais como um trauma e não com o fato da preparação em si), fiquei pensando em o que me garante que isso não aconteça comigo, e me fiz valer do pensamento de que viver em um relacionamento é viver perigosamente. É sempre um risco.

Primeiro, porque pouco nos conhecemos a nós mesmos. Todos crescemos construindo uma identidade falsa a respeito daquilo que somos. Existe uma loucura coletiva de identidades de “mentirinha” e de infelicidades crônicas, a começar pela pressão dos sonhos que os pais têm dos filhos, sem contar que é a mídia que te faz acreditar no que é bom e necessário, e também a sociedade, que parece seguir um “espírito de época” que nos diz a respeito do que é bom ou mau para a nossa vida. Acho que daí é que adquirimos máscaras. Nos tornamos, talvez, algo que deveríamos ser, mas tampouco aquilo que de fato somos. Mas, também ninguém se atreve a tirar as máscaras. Na verdade, é muito mais fácil arranjar outras. Daí se justifica a necessidade das lipos, plásticas, silicones e gente de plástico exibindo corpo de mentira como se fosse a mais bela verdade. Um filósofo já disse “conhece-te a ti mesmo”. Acho que foi mais ou menos isso que Deus perguntou para Adão quando disse: “Onde estás?”. Ali Deus não parecia procurar onde o ingênuo Adão se escondera, mas sim onde ele existia em seu próprio ser. Mais ou menos como “Onde está o seu eu?” “Quem é você atrás da mascara?” Muito mais que uma questão ontológica, uma questão existencial. Talvez um passo para uma relação transparente seja encontrar seu próprio eu. Pode ser que descobrindo o seu próprio ser (além de se decepcionar um pouco, ou muito) você consiga enxergar àquilo que o outro é, e não somente a projeção da máscara que ele usa ou que você gostaria que ele usasse.

Segundo, porque não há garantias. Não é de hoje que se ouve dizer que não há garantias para o amor. Mas, pior do que querer garantias é requerer desse amor o seu “tal” direito de ser feliz. Torna-se insustentável uma relação que tenha o dever de funcionar corretamente para satisfazer-me e deixar-me realizado como quesito básico para que ela continue a existir. Insustentável porque não é preciso ser suficientemente inteligente para perceber que nesse mundo nada funciona de maneira adequada o tempo todo. Uma hora essa coisa, seja ela o que for, dá defeito. É só parar para pensar em você mesmo, quantos turbilhões de pensamentos te atingem num só dia que te fazem mudar de opinião e vontade a cada momento? Mas, a tal relação tem que funcionar corretamente, para que ela não corra o risco de ser trocada por algo mais novo, mais feliz e ousado, e que pareça funcionar pra sempre bem. Mera utopia do que é se relacionar... Quando se vive a dois o egoísmo não cabe porque favorece sempre um. Pessoas que não sabem perder, ceder, abrir mão, não estão maduras para receber os benefícios de um relacionamento. Não existe uma ética retributiva no amor. Não há dívidas que podem ser pagas, nem garantia para a devolução do que se entrega. Existe mutualidade, reciprocidade, cuidado, dor, revolta, erro, perdão, alegria, tudo em pequenas doses, ou bem misturado multiplicado por 70x7 pronto pra beber numa golada só... Não há garantias e também há de se descartar previsões...

Terceiro, porque não sabemos dizer não. Acho que precisamos aprender a dizer não. Não à tudo aquilo que você não seja capaz de sustentar (em todos os sentidos da palavra), seja o próprio relacionamento, ou simplesmente àquilo que o ameace. “Não” para um relacionamento que está acontecendo e você não está preparado. Ou, “não” para a presença de alguém mais, quando já se está dentro de um. Talvez o grande salvador de um relacionamento seja, além do perdão (por diversas vezes), um simples não na hora “errada”.

Enfim, me preocupo comigo talvez porque tento me conhecer, e ao olhar para relacionamentos seja daquele cara de boné do primeiro ano, ou de amigos (que sem querer analiso), e até mesmo o meu, enxergo sombras quando se passa o deserto, e sei que é ali que corro o risco de ser banal, como já o fui. É por isso que preciso me lembrar sempre, para que essas lembranças, que por vezes tratadas como insignificantes, tragam à memória a sensibilidade especial trazida por meu relacionamento, que além da certeza da amizade me confirma que existe sim, amor legítimo, não aquele que me traz uma satisfação louca de momento e que acompanha uma falsa promessa de uma utópica felicidade (só pelo fato de que essa não se sustenta em si mesmo), mas àquele cujo alguns já falaram e que ecoou novamente hoje em meu coração dizendo que ele “tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (…)”

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Busca



Todo jovem procura por algo “louco” em que possa apoiar as suas esperanças. Algo que os tire da rotina, algo que os leve a ser mais do que meramente a forma da sociedade os sujeita a ser. É como se essa parte “louca” faltasse dentro desse cara, e ele então saí à procura daquilo que pode ser a salvação de uma vida entediante, igual, monótona.

Então uma nova viagem começa, não somente pela perseguição dessa tal loucura, mas também com o que achamos no meio da estrada e usamos para suprir essa tal falta. Porque o que colocamos no lugar desta nossa grande falta começa a se tornar a nossa grande esperança.

O grande grilo é que olhamos para trás, vemos alguns dos que foram jovens que também perseguiram essa loucura, que revolucionaram e se motivaram a lutar por aquilo que achavam que valia a pena, mas acabaram cantando de uma grande dor que foi a de perceber que eles ainda eram os mesmos e acabaram vivendo como seus próprios pais. Ou seja, nada mudou. Talvez até tenha mudado, mas não melhorou, não resolveu!

Entender a história do jovem do passado e olhar o longo desenvolvimento histórico da sociedade, e perceber que ela correu, e correu para chegar em algum lugar mas que esse lugar não existe, foi uma grande decepção. Então surge a dor de perceber que você corre pra não chegar em lugar nenhum, de que sua vida acaba tomando o mesmo sentido e rumo da vida que seus pais levaram e que embora se corra, tudo vai terminar de volta ao lugar do início. Sem nada novo. Sem uma loucura, sem uma esperança, dentro de uma forma.



Essa história poderia até terminar aqui, mas não.




Porém, insano seria dizer que, depois de tantos anos de história e de busca, que essa grande loucura que nos dá esperança, que quebra as “maneiras” de se fazer as coisas, e parece ser sinônimo de liberdade sempre esteve gritando e procurando por nós também.




Magina... isso é loucura!!!




Quando a busca se faz inútil e a esperança se desfaz diante dos nossos olhos, ele rola a pedra daquilo que entendíamos por coração, e nos faz sangrar, sentir e pulsar novamente, abre nossos olhos e nos faz viver esperançosamente debaixo de uma grande loucura.