“O coração tem razões que a própria razão desconhece”
Blaise Pascal, filósofo, matemático e teólogo francês, em pleno auge da razão, fez uma declaração que tempos depois tornou-se uma das suas mais conhecidas. Desbancando o que se dizia ser a fonte de todo conhecimento (a razão humana), Pascal escancara a fragilidade do racionalismo apontando para as atitudes que o próprio coração nos leva a tomar diante das circunstâncias da vida, dizendo-nos que diante do conhecimento humano algumas escolhas se tornam irracionais, e que o coração (lugar onde as escolhas mais difíceis são tomadas) é mistério.
Um sábio, antes mesmo de Pascal (bem antes), já havia dito que “entre tudo o que se deve guardar, você deve guardar o seu coração, porque dele é que procedem as saídas da vida”. E outro a pouco mais de dois mil anos, reafirmando as palavras do sábio, disse que “onde estiver o seu coração ali também estará o seu tesouro”.
Hoje, em fase de mudanças radicais, tento descobrir se de fato a vida muda da noite para o dia. Como é possível acordar e se ver indiferente a algumas coisas que ainda ontem se vivia por elas? Confronto-me na frente do espelho com uma dúvida (que vem acompanhada de várias questões): esse grito esteve sempre lá? Foi o silêncio que esvaziou o seu sentido? Será que em algum momento eu o deixei de ver? Ou não escutei o furor do que era dito nesse silêncio? Não sei se coloquei o que é de hoje no amanhã (procrastinei), e também não sei se meus pensamentos já estão em outro lugar estando hoje onde não mais deveria... O fato é que estou jogando muitas coisas fora enquanto minha memória passa diante dos meus olhos.
Seja pelas razões que transcendem a própria razão, ou pelas saídas que “ele” descobriu pela falta da guarda devida, ou até mesmo pela direção em que eu o direcionei, temos um culpado: o coração... grande vilão que carrega as razões desconhecidas!
A sabedoria do pequeno menino cativado pela raposa diria que por ir e vir, todo o dia, percebe-se o essencial daquele que se vê e que esse se torna o reflexo daquilo que se precisa. Mas essas coisas são invisíveis para os olhos... e, aqui também (acredito eu), estamos falando do coração.
Então, se você seguir o coração, você pode ser chamado a qualquer (ou a todo) instante de “maluco” ou descompensado - talvez isso que signifique irracional. Porém, encontramos um dilema aqui: se o coração por vezes é irracional, talvez a razão não enxergue o essencial.
Seria bem mais fácil colocar a culpa na maldita deusa morta, e acusá-la de me castigar por não servi-la com o rigor exigido! Mas sei que não consigo acreditar nisso, inclusive em deuses mortos...
Não estou resolvido!
Primeiro porque acredito na integralidade do ser humano como ser indissociável. Para mim não se separa espírito de corpo (a não ser na morte) como também não se separa razão de emoção (o que dizemos acontecer no coração). A neurociência está do meu lado nesse sentido (por incrível que pareça, aqui estou apelando para a modernidade), comprovando que não existe razão que não seja comprometida afetivamente e nem emoção que não seja inteligente. Isso torna toda emoção inteligente e toda razão emotiva. O que faz da “maluquice” compreensível ao mesmo tempo que compromete a razão.
Segundo porque posso conviver com o que não se explica, mas não com a covardia (embora enxergue alguns traços dela em meu passado). Por mais que ultrapasse os limites da razão, prefiro optar pela coragem das palavras do poeta que decide da luta não se retirar e se atirar do alto em quem atira em seu peito, mas da luta não se retirar...
Enquanto o medo traz a probabilidade de se tornar covarde diante do silêncio que se instaura na racionalidade da auto-preservação, a coragem torna totalmente inseguro o amanhã diante das possibilidades de mudanças.
E é exatamente aqui que se faz necessária a escolha.
É um pouco de vertigem que se sente quando se quer mudar, e embora ainda não exista chão, gostaria de adiantar a resposta (que sei que não virá) da pergunta que não paro de lançar, porque eu volto... E se eu voltar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário