"Se Deus criou as coisas para usarmos, e as pessoas para amarmos, por que amamos as coisas e usamos as pessoas?" Bob Marley
Creio que estamos em meio a uma crise. A crise da pós-modernidade, ou alta-modernidade. Numa sociedade onde a obrigação primordial é a busca da “felicidade”, a maioria das pessoas vivem num sufocante desespero. As pessoas esqueceram, e na verdade, não sabem mais se realmente foram criadas com um propósito, e acabam vivendo como se a felicidade fosse um fim em si mesmo. Elas estão presas na alta-modernidade, em meio a uma globalização (que não é bem globalização) que estreitou as fronteiras do mundo, e, como resultado, estão escravizando e sendo escravizadas. A correria é tanta, que não sobra um tempo de qualidade para passar com um amigo, com a família, com o próximo. Abraços e felicitações são substituídos por cartões virtuais e scraps. O resultado é a insatisfação aparentemente sem motivo, um estado de espírito negativamente perturbado, e a monotonia da luta pela mera sobrevivência. Falta tempo, e enquanto falta tempo, sobram pessoas, pessoas que mesmo em meio à multidão só sentem solidão. E, pela solidão ser tão cruel, substituímos a presença de um amado por alguma coisa, objeto ou atividade. Relacionamos-nos com coisas, e substituímos as coisas pelas pessoas, e amamos cada vez mais as coisas e cada vez menos as pessoas. Quando não se tem tempo de atender a um convite de um amigo, mandamos algo que nos represente. É mais fácil dar as coisas do que dar a si mesmo... e assim, nos tornamos parecidos com máquinas.
Deus nos criou como seres que tem necessidade se relacionar. Deus se relaciona pessoalmente com o homem, mas o homem moderno não tem “tempo” para se relacionar com seu próximo.
Para nós, Cristãos, que temos a consciência de que fomos criados com a característica que Deus nos deu, de sermos seres "relacionáveis" porque somos feito à sua imagem e semelhança, a falta de desprender-se para dar tempo às pessoas nos rouba a identidade de seres formados a Imago Dei. A própria Trindade é um exemplo de relacionamento perfeito, Cristo com o próprio Pai e Espírito Santo.
Pessoas não são máquinas, pessoas não precisam de conserto. Pessoas precisam de relacionamentos. Não existe uma caixa de ferramentas para consertar uma pessoa. Elas não vêm com manual. Elas precisam ser conhecidas, desvendadas, acompanhadas, recebidas, ouvidas, amadas, tocadas... precisam se relacionar.
As pessoas clamam por ajuda, e tudo o que temos a dar é a promessa de uma lembrança em nossa oração, quando, na verdade, elas precisam de você, do seu tempo...
Jesus não apenas falava às pessoas, ele as ouvia, as tocava, olhava em seus olhos e as tratava como seres únicos.
“Em nossos dias falta-nos a sensibilidade que houve em Cristo, que uma mulher ao tocá-lo despertou sua atenção em meio à multidão que o espremia. Ele mandou parar tudo para dar atenção a ela. Falta-nos sensibilidade para gastarmos nosso tempo em relacionamentos com pessoas discriminadas em nossa cidade, que não tem ninguém para trocar idéia, para abrir o coração.”
O descaso destrói os relacionamentos e a solidão mata as pessoas. *
Acho que nossa maior luta é não se deixar moldar pela ordem "natural" das coisas. Temos que dizer a nós mesmos que precisamos preservar nossos olhos e o nosso coração para que nossa alma não se afunde na lama que a pós-modernidade, ou alta-modernidade, sorve.
Acho que nossa maior luta é não se deixar moldar pela ordem "natural" das coisas. Temos que dizer a nós mesmos que precisamos preservar nossos olhos e o nosso coração para que nossa alma não se afunde na lama que a pós-modernidade, ou alta-modernidade, sorve.
Texto feito para o trabalho de sociologia depois de uma conversa com um amigo meu: Negão*