quinta-feira, 28 de julho de 2011

O desejo de consumo

“O desejo de consumo, esse sim é o grande fundamentalismo.” Milton Santos


Percebo que hoje não existe mais receio em tomar decisões. Todo mundo parece ter aprendido de que a escolha de não decidir também traz conseqüências sobre o que não foi decidido. E, é muito mais interessante e empolgante uma vida de múltiplas escolhas, pois embora elas sempre tenham um risco, viver sem o êxtase da escolha parece insuportável para quase todos.


A escolha nos causa uma sensação de autonomia individual de liberdade, garantindo-nos uma nova felicidade a cada decisão tomada ou retomada.


A escolha em si, não é um problema (porém, também não garante à solução). O problema é que num mundo viciado em uma ideologia caracterizada pelo o que se deseja, seguindo uma perspectiva de produto/consumo/satisfação, reflexo da presente sociedade de consumo, onde o que é novo hoje não serve mais amanhã (que falem mais alto os iPhones), as escolhas correm o risco de se tornarem motivos de busca por satisfação de prazeres atreladas ao tal desejo de consumo.


E daí? Você pode estar pensando. Algum problema? Nenhum, desde que você consiga não levar isso para os seus relacionamentos. Desde que a pessoa do seu lado não seja tratada como fruto do seu próprio prazer, ou somente como troca de prazer. Aliás, são de prazeres que se faz a vida? Ou quando eles aparecem são em poucos momentos ao longo do dia (essa confusão deve ter originado a tal busca da felicidade, enfim...).


Existe uma mercantilização dos relacionamentos humanos, onde os consumidores com recursos correm atrás do potencial gerador de prazeres, e o maior problema não é exatamente aqui, e sim onde tudo muda o tempo toda e cada vez numa velocidade mais rápida. Você já sabe (ou pelo menos deveria) que dada à profusão de ofertas tentadoras, qualquer tipo de mercadoria prazerosa tende a se exaurir rapidamente.


Poderia citar inúmeros exemplos de troca nos relacionamentos por prazer, mas não gostaria de atentar a isso e sim a outra coisa. Na ignorância de pensar que, concordando ou discordando, essa liberdade de escolha está ao alcance de todos quando não está. Por exemplo, na relação entre casais, onde um divórcio pode ser a escolha de um membro mais forte da relação que inclui, necessariamente, o mais fraco, mas que, não é tão bem dotado dos recursos necessários para seguir livremente seu desejo de se manter casado (isso sem falar quando existe um filho, uma criança, essas involuntárias mas duráveis conseqüências das parcerias que raramente vêem o rompimento de um casamento como manifestação de sua própria liberdade).


Mudar para seu próprio prazer pode até ser uma questão privada, mas sempre inclui a ruptura de certos vínculos e o cancelamento de certas obrigações e, os que estão do lado que sofre quase nunca são consultados, e menos ainda têm chance de exercitar a sua liberdade de escolha.


Nesse caso a liberdade é ilusão, o que manda são as escolhas, portanto, cuidado com as escolhas, pois elas são tanto tentadoras e desejadas quanto repulsivas e temidas. Como diz o filósofo Michaud, “com o excesso de oportunidades, crescem as ameaças de desestruturação, fragmentação e desarticulação”.


E, falando em relacionamento, apelo para Charles Chaplin que disse: “Não sois máquinas! Homens é que sois”. Não consuma ninguém somente pelo seu desejo.


Me lembrei dos meus votos (porque também estou com “sintomas de saudades”), mas prometi muitas coisas que ainda não consegui cumprir, só porque algumas ameaçam o meu prazer... Logo, como tenho dito, é melhor me lembrar:


Fê, hoje nesse momento tão esperado por nós, diante de testemunhas inúmeras, de muitas tribos, estamos representando o amor. Amor que nos trouxe até aqui, e que nos levará a uma nova maneira de viver a partir de hoje. Amor que nos ensinou que ele não tem nada a ver com escravidão e sim com liberdade. Amor que não nos faz mais correr atrás de nossos objetos de desejo procurando a plena satisfação. Amor que não é cego, pois cega é a paixão. O amor vê além e não oferece garantias, pois ele não é um sentimento e sim uma decisão de auto-doação, sendo assim, deixa de ser “por causa de” para se tornar “apesar de”. Logo, na há como amar sem correr riscos, sem perder, sem fazer morrer o ego. Por muitas vezes choverá no dia da festa. Mas o mesmo amor nos ensinará a andar juntos debaixo dessa chuva. Parafraseando a música: “chorando ou sorrindo, mas emoções juntos vivendo”.


Incondicional, livre e eterno. Acredito que essas são as primícias do amor. Também do nosso amor. E diante de Deus e desse amor por ele criado é que revelo e expresso meus votos a você hoje:


Eu te prometo amizade, parceria e companheirismo. Serei um lugar pra você voltar no final do dia, uma mesa pra compartilhar o pão de cada dia, uma força no dia da adversidade, um alguém com quem você possa celebrar a vida, as alegrias e tristezas das vitórias e derrotas do dia-a-dia. Tentarei ser a certeza da presença no dia do fracasso e a mão estendida na noite de fraqueza e necessidade. Prometo trazer-lhe ânimo, esperança, estímulo e valorização. E sempre, na pior das hipóteses, a certeza de ter alguém ao lado, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza, aprendendo um com o outro, até que a morte assim nos separe, ou nos una ainda mais. Prometo assim porque não conheço outra maneira, prometo assim pra você, não porque você é a mulher ideal com quem sonhei, mas porque você é tudo que eu não tive a capacidade de sonhar nem de pedir a Deus. Te amo!

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