Eu sempre quis ser o tipo de pessoa que faz a coisa certa. Não só nas grandes coisas onde parece óbvio o que é certo e errado, mas também nas pequenas coisas, nas sutis, que passam despercebidas. Mais ou menos aquilo que eu faço quando ninguém está olhando. E, é fácil deixar essas pequenas coisas de lado, pois são escolhas intermináveis que fazemos todos os dias e nos moldam no tipo de pessoas que somos.
Porém, não poucas vezes, sou invadido por um turbilhão de sentimentos e desejos, ressentimentos e caprichos, que me cegam tanto para as pequenas quanto para as grandes coisas que me proponho a fazer. Saio da rota, saio de órbita, e me vejo preso com correntes que eu mesmo já arrebentei. E não vou dizer que alguns motivos não sejam justos, mas, com certeza não são suficientes, e por isso, não são sustentáveis.
Esse tipo de escolha, que você e eu fazemos, diz muito sobre o tipo de pessoas que somos e o tipo de pessoas que seremos. Temos a escolha de nos tornarmos amargos ou não, escolha de nos tornarmos canalhas ou não, escolha de nos tornarmos caprichosos ou não, escolha de nos tornarmos egoístas ou não.
Quando paro pra pensar não sei ao certo porque tomei algumas decisões e escolhi agir de determinado jeito em relação a alguma coisa. E, também acho válido por vezes não saber explicá-las e não ter respostas a elas. Mas, isso geralmente acontece quando se deixa atingir por uma força de momento que se conecta com sombras de desejos que acabam resultando em um furacão de confusão.
Tem outra também, quando pensamos muito no que não temos, acabamos esquecendo o que temos. E, na verdade, creio que esse seja o maior de todos os problemas, nós nos esquecemos. Vivemos com resquícios de amnésia diante da aceitação resignada das circunstâncias que saltam à nossa cara em tensão com a decisão arrojada de enfrentar essa força das circunstâncias. Acho que é aí que se escancara o caráter. Entre a aceitação resignada e a decisão arrojada de enfrentamento.
É o caráter muito mais exigente e menos apto a transigir, ou até menos paciente com as escusas no teste de ‘aceitabilidade’ moral. Vou tentar explicar, é como se fosse bom, sutilmente aceitável e possível, mas ele diz: - eu não posso. Eu não posso negociar, eu não posso fazer diferente.
“Ic kann nicht anders”. Foram essas as palavras de Martinho Lutero, impelido pelo seu caráter, que o fez declarar em 31 de outubro de 1517, na véspera do Dia de Todos os Santos: Ic kann nicht Anders, “eu não posso fazer de outra maneira", quando ousou afixar as suas 95 teses heréticas na porta da igreja do castelo de Wittenberg.
Isso me faz pensar onde foi que eu perdi o meu caráter, e também de que preciso me confessar...
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