terça-feira, 20 de setembro de 2011

"Lembre-se do seu Criador..." (Eclesiastes 12.1)

É um equívoco pensar no texto de Eclesiastes 12 como um pedido ou como uma precaução do pecado diante das oportunidades que saltam à cara de um jovem. O que o sábio, na verdade, oferece nesse texto é uma resposta ao sentido da vida. Sentido em relação à orientação/direção e sentido buscando um significado.

O livro de Eclesiastes narra a consciência de um vazio. Não de um vazio qualquer, mas estabelece um diálogo silencioso entre o Homem (humanidade) e o vazio do nada sob os olhos d’Aquele que é tudo, Deus. Ele narra o drama de alguém que, acreditando que a sua “sabedoria” tem algum valor, descobre que ela sempre lhe passará uma rasteira, pois é incapaz de mudar o seu destino final (2.15-16).

Existe uma frustração de quem se apoiou em sua própria sabedoria para experimentar e produzir sentido através das experiências vivenciadas que não trouxeram as respostas às perguntas levantadas. Não precisamos ir longe para nos compararmos ao sábio. Quantos de nós acreditamos e apoiamos a nossa vida num plano de carreira, num relacionamento, nos prazeres que algum tipo de sucesso pode oferecer, e nos decepcionamos quando o objetivo não é alcançado, ou quando a coisa não sai da maneira que planejamos. E não só isso, e quando o conflito é bem mais parecido com o do próprio Eclesiastes, quando tudo dá certo, mas ainda não faz o menor sentido. Tudo é vão, como diz ele, uma nuvem que passa, um vento vazio...

“Todo conhecimento verdadeiro sobre si mesmo começa com um profundo entristecimento”, afirma Kiekegaard, filósofo cristão existencialista. É quando tomamos a consciência de quem nós somos (um punhado de pó) e quando percebemos o vazio que carregamos em nós mesmos, que descobrimos que só podemos ser alguma coisa em Deus, pela sua graça, e que respiramos com sopro de vida que não podemos sustentar.

O que o sábio oferece no capítulo 12 é a coragem de se viver a vida, desfrutando do melhor que ela tem, sem se esquecer de que nada do que você viver ou experimentar pode sustentar a sua existência, nem trazer sentido para sua vida. Por isso, diz ele, viva, viva intensamente, mas não se esqueça que você é pó, e a sua existência depende de uma graça, e que o sentido da sua vida está com o seu Criador. Não se esqueça dele jovem, lembre-se, "lembre-se do seu criador...”

E o sábio continua: "antes que seja tarde..."